sexta-feira, 25 de novembro de 2016

NORDESTE TRANSMONTANO - EFEMÉRIDES (25/11 - Actualização)

25.11.1385 – O rei D. João I confirma a carta que assinara na qualidade de regente ordenando a extinção do concelho de Fozcôa e sua anexação ao de Torre de Moncorvo.
25.11.1609 – Nesse dia, em viagem de Évora até Miranda do Douro, o padre Manuel Severim de Faria passou o rio Douro na barca do Pocinho. Porque tem interesse histórico, aqui deixo o relato dessa 16ª jornada:
- De Ranhados a Santo Amaro há três léguas, nas quais fica Freixo que chamam de Numão, por diferença de freixo de Espada à Cinta, o qual está situado ao longo da Teja, ribeira fresquíssima, e abundante principalmente de freixos dos quais tirou o nome. Há também nesta ribeira grande cópia de cerejeiras e de outras árvores de fruto. O lugar de Santo Amaro é de poucos vizinhos desce-se a ele por este caminho por uns outeiros mui íngremes, que de uma parte a outra se deixam cair a pique em profundos vales, e somente fica um caminho estreito pelos lombos deles por onde se passa.
De Santo Amaro à Barca do Douro há uma légua dos mesmos despenhadeiros até que se dá em um vale de campo chão e mui plano que com o húmus abundante que participa do Douro está todo coberto de arvoredos frutíferos, vinhas e olivais, juntamente se apresentam nele muita cópia de gados. Os olivais todavia são modernos porque de vinte anos a esta parte se começaram a plantar que até então se não beneficiavam tais árvores neste território, porém é o terreno tão cansável delas que em nenhuma parte se vêm mais viçosas e crescidas. No fim deste vale se chega ao Douro, o qual se passa aqui em uma barca por levar aqui a corrente mui alcantilada, como quasi sempre costuma. Esta barca é estanque da vila de Moncorvo e lhe rende duzentos mil réis.
Da barca a Moncorvo há uma légua de aspérrimo e trabalhoso caminho por cima de picos de montes mui estreitos e perigosos, de modo que em muitas partes é necessário ir a pé. Chama-se esta vila a Torre de Moncorvo, e dizem que a povoação tomou o nome do fundador da torre que dizem se chamava Mendo Corvo (…) A igreja é de obra nova trabalha-se de presente nela, e acabada será obra insigne…
25.11.1826 – As tropas Miguelistas do Conde de Amarante tomam a cidade de Bragança.
25.11.1896 – Nomeação de Abílio Lobão Soeiro como administrador do concelho de Mirandela onde reinava a anarquia “imposta pelos penicheiros”.
25.11.1925 – Correspondência do administrador do concelho para o delegado do procurador da república:
- Tenho a honra de participar a Vª Exª que Francisco António de Sousa Campos, casado, fiscal dos impostos de Moncorvo, fez desaparecer uns papéis eleitorais da assembleia eleitoral de Horta da Vilariça, na eleição que se realizou em 12 do corrente mês, propositadamente e cujos lhe haviam sido confiados pelo cidadão Afonso Marcolino Ferreira
25.11.1927 – Carta dirigida ao presidente da câmara municipal de Moncorvo:
- Os abaixo assinados António Francisco Nogueira Lda, proprietários da Fábrica de Tecidos de Seda sita à Rua da Alegria, 265, do Porto, vem solicitar a atenção de Vª Exª para o facto de lhes ter sido exigido o pagamento dum imposto ad valorem sobre o casulo de bicho da seda comprado nessa região, imposto cuja exigência representa uma injustiça, além de ser uma exorbitância a percentagem estabelecida.
É, decerto, do conhecimento de Vª Exª que a nossa casa, desde há muitos anos, vem fazendo, por todos os meios e com apreciável dispêndio, uma larga propaganda tendente ao desenvolvimento da sericicultura no nosso País, e mais particularmente nessa região, que foi, desde sempre, a que mais apta se mostrou para essa indústria, ou seja pelas condições especiais do clima, ou por uma tradicional tendência dos seus habitantes.
Para a realização do nosso desideratum que jamais teve o mais leve intuito comercial ou de interesse, entendemos sempre que a maneira prática de atingir o nosso fim, é animar as criadeiras, pagando o casulo a preço tão remunerador quanto possível, sem de modo algum nos valermos da circunstância de ser proibida a exportação - contra o que aliás sempre protestámos - e de ser a nossa a única que compra casulo do bicho da seda.
Não faz sentido que uma casa animada de tais sentimentos de tão patrióticos intuitos, visto que se trata duma indústria que bem pode ser uma importante fonte de riqueza nacional, tenha como prémio do seu esforço – que tem ido por vezes até ao sacrifício, pois não são pequenos os prejuízos que sofremos – o pagamento de um imposto que com toda a justiça deve ser abolido.
Mas há mais ainda: É que, tendo os signatários, em várias localidades, os seus agentes para a compra do casulo, facilmente se compreende que estes agentes compram o casulo que que lhes é oferecido, ou seja de povoações do próprio concelho, ou seja dos concelhos limítrofes.
Assim, acontece que o casulo comprado na Lousa este ano compreende casulo de 6 concelhos diversos: Vila Nova de Fozcôa, Meda, Pesqueira, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Mogadouro, representando o casulo propriamente do concelho de Moncorvo, menos da oitava parte do casulo comprado na Lousa. Ora, ainda mesmo admitindo a legitimidade que os signatários contestam, da exigência do imposto ad-valorem sobre o casulo produzido no concelho de Moncorvo, o que não oferece a menor dúvida, é que esse imposto, de modo algum deve incidir sobre casulo que, embora saindo do concelho de Moncorvo, não foi aí produzido, pois veio de concelhos estranhos.
Pelas considerações que deixam expostas, os signatários solicitam a Vª Exª a abolição do injusto imposto ad-valorem sobre o casulo de bicho da seda, tendo em atenção que, se a nossa casa deixasse de comprar o casulo – e não há outra que o compre – perder-se-ia a indústria da sericicultura, que só pelo esforço e sacrifício os signatários vêm fazendo de longa data se não extinguiu já há muito, desaparecendo assim uma indústria que é ganha-pão da gente humilde desse concelho.
Tão justa é a pretensão dos signatários que esperam deferimento. Porto, 25 de Novembro de 1927. Ass. António Francisco Nogueira Lda
25.11.1956 – A vila de Alijó celebrou com pompa o centenário do gigantesco plátano (o maior do País – dizem) que ainda hoje existe junto à igreja matriz. Torcato Ribeiro fez na altura a seguinte poesia:

Árvore grande, sempre altaneira,
És em Portugal, de todas a primeira.
Fazes 100 anos! Vimos-te saudar.
Alijó, inteira, aqui vem passar.

Vieram os velhos, os jovens, as crianças.
Mil recordações, quimeras, esperanças!
Cresceste, ditosa, à sombra da cruz,
És um gigante, graças a Jesus.

Guardas, ciosa, ao lado, o Sacrário
Tens nas sementes, dispersas, as contas do rosário.
Tens por companhia nossa igrejinha
És por conquista, das árvores a Rainha.

Reinas em silêncio, sem fazeres barulho,
És dos Alijoenses, o maior orgulho.

António Júlio Andrade

Reedição de posts desde o início do blogue

6 comentários:

  1. Situado mesmo junto à Igreja Matriz de Alijó, este Plátano de 152 anos estende os seus ramos por toda a Avenida.
    Está protegido por um gradeamento, ladeado por um banco onde podemos sentar-nos a desfrutar da sua sombra. Tem uma placa pendente, com uma prosa poética a enaltecer a Árvore, que assinala o seu centenário (1856-1956).
    Diz-se em Alijó que as raízes do Plátano se estendem por todo o subsolo alijoense, chegando a mais de 500 metros de distância (!).
    Apresenta codominância entre as 3 pernadas. Foi implementado um sistema de sustentação, que consiste nuns cabos de aço cravados nas 3 pernadas, unindo-as, a cerca de 4m de altura.


    Espécie: Platanus acerifolia

    Idade: 155 anos

    Dimensões:
    PAP: 6,40 m DAP: 2,04 m
    Altura: 42,0 m
    Diâmetro de copa: 31,10 m

    Condicionantes ambientais: A maior limitação da árvore são os edifícios adjacentes, Igreja Matriz e habitação, que entram em conflito com os ramos do Plátano. A compactação não será desprezável, uma vez que há circulação automóvel e estacionamento a toda a volta da árvore.

    http://arvores-do-norte.blogspot.com/2008/07/o-pltano-de-alij.html

    ResponderEliminar
  2. Ainda havia industria da seda em 1927?Qual foi a resposta da câmara?

    ResponderEliminar
  3. Sinceramente não sei, nem procurei. O importante é assinalar o esforço daquele industrial e homem de visão - António Nogueira Soares!. Até criou uma "escola móvel de agricultura" pagando do seu bolso ao agrónomo responsável e nada recebendo em troca, para incentivar e tentar modernizar esta actividade em Trás-os-Montes... Que grande diferença em relação aos ditos cursos de formação profissional que por aqui abundam hoje em dia e que apenas têm como objectivo comer da mesa do orçamento!... Não aparece por aí alguém com tempo e disponibilidade para fazer uma biografia deste Moncorvense de adopção, que morou na casa onde depois abriu o café restaurante Passarinho? J. Andrade

    ResponderEliminar
  4. Olá A. J.Andrade! Excelente texto nos apresenta hoje! Parabéns! Quanta informação! Apetecia-me pegar em todos os aspectos e comentá-los; todos são de muita importância:alguns destes vultos ainda são nomes recentes, Torcato, foi governador civil em Vila Real, será o mesmo? A poesia é fresca, bonita, exultante de orgulho, que nos toca. Mas a descrição das nossas terras é que me enternece.É tal, qual assim, com todo esse pitoresco; são as nossas terras, as nossas oliveiras!
    Obrigada por esta preciosidade!
    AH! E os impostos! e a grande lição que daqui tiramos!
    Com muita amizade,
    Tininha

    ResponderEliminar
  5. 25.11.1609 - Belíssima descrição dos lugares - montes e vales - e dos caminhos percorridos pelo padre Manuel Severim de Faria.
    Grata ao António Júlio que connosco partilha estas relíquias.
    O plátano de Alijó é já um monumento.

    Abraço
    Júlia

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.