sábado, 21 de janeiro de 2012

Baixo Sabor -Obras da barragem desvendam património arqueológico

 Ainda não está definido o futuro a dar aos achados no Baixo Sabor
 Vários artefactos que se presume sejam anteriores à época de Cristo, alguns deles romanos, encontrados no lugar de Cilhades e no Castelinho, no concelho de Torre de Moncorvo, no decurso dos trabalhos de construção da barragem do Baixo Sabor, foram divulgados publicamente pela EDP durante uma visita às escavações arqueológicas, que decorrem no local, no passado dia 16 de Janeiro.

Os trabalhos arqueológicos inseridos nas medidas de minimização pela construção da barragem e previstos na Declaração de Impacte Ambiental tiveram início em 2008, mas Lopes dos Santos, director de projecto no empreendimento hidroeléctrico, nega que a empresa tenha tentado ocultar os achados. “ Esta visita trata-se de uma apresentação geral dos trabalhos. O sítio é livre. Não nos interessa esconder, mas mostrar o que está a ser feito”, reforçou.A EDP vai promover um programa de visitas às escavações com os alunos do ensino secundário das escolas da região. O material recolhido está a ser tratado e estudado, após a conclusão da obra o seus destino será definido pelo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico). “Estamos certos que haverá uma solução a contento da região”, referiu Lopes dos Santos. Tanto Cilhades como o Castelinho vão ficar submersos quando a barragem do Baixo Sabor encher, mas o seu estudo é considerado “muito importante” como forma de conhecimento da ocupação histórica da zona. Foram ainda achados 50 fragmentos com gravuras rupestres da chamada Idade do Ferro, no sítio do Castelinho, “o que o torna um local singular”, referiu Filipe Santos, coordenador da equipa de arqueólogos. Algumas das inscrições têm elementos figurativos e guerreiros empunhado armas, a caçar um javali, um motivo considerado “raro” pelo responsável.
Entre os achados está ainda um Altar Romano ou Ara Votiva, com cerca de 2100 anos. Foi construído como oferta à Deusa Tutela. Encontrado no sítio arqueológico do Laranjal, reaproveitado numa construção local. Está associado à protecção divina do lugar. Foram desvendados vários pequenos objectos como uma Moeda da Idade do Ferro, datada da segunda metade do primeiro milénio antes de Cristo. Foi a primeira encontrada durante as escavações desencadeadas na sequência das obras da barragem. Um anel da Idade do Ferro e vários objectos de adorno pessoal, como um anel, uma fivela ou pregadeira, estão também entre os achados do Baixo Sabor, encontrados durante as escavações arqueológicas no lugar de Castelinho. Tratam-se de objectos que mais de que o valor monetário têm valor patrimonial pois servem para conhecer melhor a ocupação do espaço naquela zona.
Em Cilhades, junto à capela de São Lourenço, foi encontrado uma necrópole medieval que se presume seja do séculos XII ou XIII, onde foram detectadas 90 sepulturas com vários esqueletos. Nas escavações em Cillhades e Castelinho trabalham perto de 100 profissionais entre arqueólogos, antropólogos e outros. Por estes dias tratam de remover com muito cuidado ossários das sepulturas. Trata-se de um trabalho de paciência e minúcia. “Há mais de uma semana que trabalho nesta sepultura, é um trabalho muito moroso”, contou uma arqueóloga.
Ainda se estão a estudar as plantas dos edifícios associados à necrópole, que é considerada muito importante por remontar à época do rei D. Sancho I.
O Castelinho é um povoado fortificado da segunda Idade do Ferro, com materiais entre o fim do século terceiro e o início do séculos segundo antes de Cristo, anterior aos romanos. Entre este sítio e o de Cilhades há um recuo de mil anos no tempo. “Está a proceder-se à escavação arqueológica e ao registo integral de tudo o que é encontrado, as estruturas e o material. É importante para o entendimento da ocupação humana dilatada no tempo. Desde a proto-história até à contemporaneidade”, justificou Filipe Santos.
O património vai ser submerso, mas Maria de Jesus Sanches, consultora da EDP e professora da Universidade do Porto, garantiu que o património vai ser selado e preservado para a posteridade. Neste caso, e apesar de o sítio ser conhecido, as descobertas foram possíveis graças à obra de construção da barragem. O Plano de Salvaguarda prevê a reserva arqueológica. “Os locais ser escavados de forma suficiente ao conhecimento que queremos agora, mas não na totalidade para que no futuro se possa encontrar um sítio não exaurido”, esclareceu.

Glória Lopes (Mensageiro de Bragança)
Fotos (Arquivo Farrapos de Memória):1- zona cemitério medieval;2- a jornalista entrevista Filipe Santos;3-sepultura;4-Castelinho;5-a moeda.
Ver mais em:http://www.a-nossa-energia.edp.pt/noticias/artigo.php?id=88

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