terça-feira, 9 de agosto de 2016

MACEDO DE CAVALEIROS - POÉTICA


De mansinho, somos sonegados à pacatez da Pereira Charula. Uma estranha e profética visão apodera-se dos sentidos, rumores da diferença, apega-se a alma a imagens outras, vulgarizam-se memórias de românticas varandas de um romântico tempo em que a Rua da Praça ir desembocar na Praça. Tempo de desencarcerar os pleonasmos, soltando eufemismos, e vivas dando a figuras de estilo sem estilo algum. São os recursos expressivos, ou coisa que o valha... Divorciei-me da gramática, separei-me da morfologia das letras, etimologicamente desprovido de sintaxe, peremptoriamente afirmam os iluminados que regressões tive a idos tempos de iluminações outras, a petróleo talvez, ou às avessas candeias. O candeeiro é, hoje, outro, furtem-me a comida, que a fome não roubam. Porque os livros estão lá, à passagem da esquina da difamação, penetra-se num mundo de ilusões, aspira-se a inebriante voz das letras. De repente, um idílico mundo em que as cepas se vêem adornadas a cachos de letras, doces ou amargas, verdes ou maduras, folheia-se o tempo que pára subitamente, à medida que um quadro de negra tela se vai ofuscando por detrás de pinceladas de giz, aquele mesmo que preenchia lousas em recuadas épocas em que os pais, ingénuos seres de outrora, amputados não eram da prole.



Por entre umas baforadas de capas e contra-capas, entorta o olhar para a esquerda, alterne-se com a direita, a fermentação de fonemas interrompida pela embriaguez de sorrisos, recatadas faces, a Alice, disponibilidade do ser, a Virgínia, mestre de letras, encantadora de serpentes da escrita, no seu mundo pintado a alvinegro, colorido pela inefável, por vezes, magnânime presença da contagiante D. Ana. Solitário remador na presença de navegadores em barcos de papel... Ou o universo traçado a pena, indecifráveis tintas, da China, ou doutro lado qualquer. Folga o costado de quotidianos sentires, aplaca-se a sede de indizíveis vazios, sorve-se o tempo num alienígena espaço, que a Física tudo não explica, venham o Hawking ou o Albert, conceptualize-se a relatividade da quântica, relativizem-se livrescos quasares, quantifiquem-se negros buracos literários. Opte-se, então, por descer a telúrico planeta, percorram-se os meridianos, pausa para simpático e reconfortante café, duas de letra o dizem, o conforto de uma troca, voam ideias. De tempos a tempos, poéticos saraus, afinidades na partilha ou, novos autores, consagrados outros, preencha-se o serão a velas, luminosidades de encanto, intimista, familiar, na proximidade de um circo de letras, sopa de feras de signos conjugados a sentir.

Vezes outras, empreendedorismo o clamam, ganha o ambiente nobres aromas, excitam-se estomacais fluídos, revisitem-se Isabel ou Laura, venere-se Afrodite ou retempere-se a alma a chocolate, cocktails de excêntricos sabores, ou o sabor das compotas da Lu. Tempera-se a noite a espasmos de gulodice, condimentos do exotismo da D.Virgínia, ou da descendente Joana, uma deglutição mais, poetiza-se a comida, como uma sequência de estrofes do paladar, saliva em ebulição, versos de sabor e alma. Encontram-se anormais rimas entre framboesa e maçã, nêsperas de outra galáxia, gustativas papilas em reboliço, funde-se a amálgama num vulcão rodeado de livros.

Há espaços assim por Trás-os-Montes, bem no coração do Nordeste, ponto oitavo de Pires Cabral, Terras de Cavaleiros, no despovoamento povoada por locais de eleição, louvores ao sonho em realidade transfigurado. Há simbioses dos sentidos que valem a pena...
VER :
http://masaedo.blogspot.pt/2012/07/poetizar-provincia.html

Reedição de posts desde o início do blogue.

5 comentários:

  1. Lindo, a Virginia e a Poética merecem, um local onde entramos e não apetece sair :)

    ResponderEliminar
  2. Todos os concelhos do distrito deviam ter uma VIRGINIA.Nós ,os moncorvenses não temos. Nem livraria.
    Para quando uma livraria ?PASSA-SE dizem os cartazes pendurados nas montras.Fecham ou reabrem como lojas de produtos regionais seguinndo a estrela do norte que é a D. Dina.Um dia alguém ainda se vai lembrar de abrir uma POÉTICA.
    Leitor

    ResponderEliminar
  3. A livraria pode ser POÉTICA mas o texto é prosa de qualidade.Rui Rendeiro tem livros publicados?Sigo o seu blog com admiração .
    Um cavaleiro a pé

    ResponderEliminar
  4. Excelente! Parabéns, Virgínia.

    Abraço
    Júlia

    ResponderEliminar

  5. É com enorme alegria que entro neste espaço tão original e tão especial e nele me vou deleitando como quem do alto da montanha avista um mar manso e sereno que acalma e dá conforto à alma.

    Parabéns

    Ed.T.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.