segunda-feira, 9 de julho de 2012

Meu Caro Rogério,

A sua intervenção em favor dos lagostins despejados do tanque das “regateiras” pode ter trazido uma réstia de luz a um mistério que há um ou dois anos vem ensombrando os sonhos dos habitantes do meu bairro. Sonhos que, em cada imensa noite que passa, se transformam em pesadelos de insónia.
Eu explico: numa placa triangular ajardinada com plásticos e ervas secas, que tem no centro um candeeiro de iluminação pública mais torto do que quem lá o implantou há já uns 30 anos, mas que estoicamente se mantém de pé por gentileza de um posto de transformação de energia eléctrica que o ampara, um cão cheio de mazelas instalou a sua residência em uma cova que ele próprio ali foi escavando a montante da base do poste que suporta o dito candeeiro, numa manobra de engenharia capaz de enciumar muitos engenheiros cá da terra. Não sei se cobram IMI ao animal, mas aquilo tem aspecto de residência principal e permanente, e não apenas de férias, já que o bicho passa ali as quatro estações do ano. Os próprios moradores do bairro já assumiram que aceder ao buraco é invasão de propriedade privada e só lá vão para lhe deixar comida, que o pobre humildemente agradece.
Todavia, saciado o apetite, o malvado esquece a gratidão que deveria continuar a sentir por quem lhe demonstra tanto carinho e, nas horas da noite em que os próprios sonhos se apagam para nos deixar dormir, aí vem ele em ruidosos protestos contra tudo e todos, ladrando, uivando, chorando até (serão saudades dos lagostins?) e interrompendo malvada e inexoravelmente o nosso direito a um merecido e reparador descanso.
Residência Canina
Parece ter já sido atropelado pelo menos duas vezes, com moléstia nas patas dianteiras, real ou presumida, já que, quando está frio, manca umas vezes da direita e outras da esquerda, numa demonstração de aparente falta de memória sobre qual das patas de facto lhe dói (ou então está a mangar connosco).
Como as queixas que vêm sendo feitas não têm frutificado e o bicho continua a reclamar o seu direito (constitucional ou meramente autárquico?) a não deixar pregar olho a ninguém, a conclusão a tirar é a de que o pobre animal - que nem nome se lhe conhece e está sujo e claramente doente e não exibe licenças nem sinais de vacinas - tem mais sorte do que os lagostins (tão rapidamente saneados), aparentando gozar do especial privilégio de incomodar impunemente os outros, geralmente só reconhecido a criaturas geneticamente mais evoluídas, embora ciclicamente mais barulhentas.
Conclusão: nestas paragens, é preferível ser cão vadio com boa vizinhança e fiscalização condescendente, do que lagostim sem licença de desportos náuticos.
Um abraço,
Abílio Dengucho

8 comentários:

  1. Há um canil no Larinho e um grupo de amigos do canil com página no facebook e tudo.O canil tem um protocolo com um grupo alemão que leva para lá os nossos cães vadios.Os mais bonitos.A EDP está a construir no Felgar um hospital para animais feridos na zona de influência da barragem.Das duas uma, ou vai para o Larinho ou para o Felgar,se curar e ficar com bom aspecto ainda acaba na Alemanha.A melhor solução,para mim, era manter o cão onde está ,darem-lhe de comer e beber e arranjarem-lhe uma casota. Todas casas na área de influência do seu uivo colocavam vidros duplos nas janelas.O cão não saía do seu habitat natural e criava postos de trabalho nas adaptações das casas .Todos ficavam a ganhar incluindo os que não vivem nessa zona nem vendem vidros duplos pois era mais um tema de conversa agora que não há bola mas há Relvas.
    Dog.

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  2. ...aí vem ele em ruidosos protestos contra tudo e todos, ladrando, uivando...
    O bichinho não é do B.E.?

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  3. Isto está a ficar interessante: começou nos lagostins (que nem precisam de cozedura para ficarem vermelhos porque, devido a uma mutação genética, são vermelhos de nascença) do tanque da Praça das Regateiras e já vai em canídeos.
    Aliás, este cão que rosna e ladra e uiva contra quem o quer desalojar, deve ser descendente de um dos canídeos da Praça Francisco Meireles a que se refere o Dr. Sobrinho num texto que ficou célebre.
    Ah, já me esquecia: houve ainda o caso da simpática hipopótama chamada Margarida. Até onde a saga irá dar !?

    júlia

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  4. Todos temos direito a comida,habitação e afecto dos humanos.

    CAT

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  5. Querem ver que este vai ser o primeiro cão da vila a migrar para o Felgar, para o hospital dos animais? Para o dos animais, que é mais luxuoso que o posto médico das pessoas, que esperam por más resposta de médicos aborrecidos por estarem longe da urbanidade com que sonharam nas noites de marranço do Harrison e que afinal não deram em nada...
    O animal ficou ferido por causa das obras da barragem?
    Anda tudo às avessas!

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  6. O canito reclama por falta de colinho.
    Sugestão: 1/2 xanax na comida (dormem todos), ou reclamação neste sítio

    http://www.torredemoncorvo.pt/cidadaoatento

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  7. Todos acrecentam uma solução mas eu acrecento mais uma.Sou assim,sou consultor de café. A EDP tem um programa e patrocina novos empeendedores.Na lista dos jovens empresários aparecem vários com lojas de produtos regionais.Tudo bem.Miranda,Mirandela,vinhais tentam vender os seus produtos no mercado externo.Exportar é que está a dar.Voltando à EDP, que foi comprada pelos chineses, que têm um sentido do negócio apurado,deviam propor a um jovem desempregado a criação de uma empresa para exportar cães para a china.
    Há ,como um bom moncorvense sabe,dois tipos de cães:cão da vila e cão de fora.Os cães da vila ,como produto endógeno podiam ser considerados de denominação de origem,portanto mais caros e como produto de segunda os cães de fora.
    Gengis Kã

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  8. Dentro dos endógenos, há os com pedigree e os rafeiros.Os rafeiros não têm nada a ver com os de fora("por isso mais caros"), os de pedigree não têm nada a ver com os de cá(artigo de luxo, não têm preço). E os de fora (mesmo) vendem-se em qualquer loja chinesa (sem valor comercial).
    Cão Preende Dor

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