domingo, 23 de setembro de 2012

A MINHA HOMENAGEM AOS “VELHOS” PROFESSORES PRIMÁRIOS,por António Pimenta de Castro

Peredo dos Castelhanos -1974
Dentro de dias vai começar mais um ano lectivo. Para trás ficou mais um merecido mês de Agosto em que o descanso e o convívio com os amigos, nos reconfortou de mais um ano de trabalho. Foi o tempo de falarmos das nossas profissões e, sobretudo, das nossas preocupações com o futuro. E assim foi…
Sou do tempo em que o professor primário (sobretudo a professora, pois estas eram em maior número) era, a par do padre, das pessoas mais consideradas na aldeia, na vila, ou mesmo na cidade. E isto devia-se a muitas razões: à nobreza da sua profissão; ao prestígio da sua posição social no meio em que se inseriam; ao trabalho e carinho que davam aos seus alunos, mas sobretudo à dedicação, ao trabalho e empenho que punham no ensino (às vezes com algum rigor a mais…). Os alunos saíam da escola “primária” a saber. Ainda hoje, quase todos os dias, encontro pessoas com a quarta classe antiga a orgulharem-se de saberem mais (apesar de só terem estudado na sua meninice), do que os seus netos, que andam no ensino básico e mesmo alguns que andam no secundário…( estou a falar, por exemplo do cálculo matemático e da História e Geografia de Portugal). Evidentemente que isto não é culpa dos professores (se calhar os professores são os que menos culpa têm)…mas adiante, que este assunto daria para mangas e o tema do meu artigo de hoje é homenagear o “velho” professor primário e não a crítica ao actual ensino…lá iremos um dia destes…

 Lembremos que, as condições pedagógicas e materiais desses “velhos professores primários” (o termo “primário” não tem para mim a mais pequena conotação negativa, pelo contrário, eram eles que nos ensinavam as primeiras lições) eram miseráveis, se comparadas com as condições que hoje temos…, o material didáctico de que dispunham, era mínimo (um quadro, um mapa, a velha lousa, giz, e…pouco mais); ensinavam, quase todos, quatro níveis (ou, como então se dizia, quatro classes) e naqueles tempos as escolas estavam cheias; a maioria dessas escolas, não tinham as mínimas condições (em muitas aldeias e lugarejos, pouco mais eram que casas velhas), sem aquecimento, nem as mínimas condições de higiene: essas escolas ficavam isoladas, muitas delas nem estrada tinham (obrigando o professor a viver nessa aldeia) e, para culminar, para além de baixos vencimentos, não ganhavam nas férias, uma vez que era escasso o número de professores efectivos, para não falar nos chamados “postos”. Apesar de tudo isto, a sua dedicação era extrema, ao ponto de levarem os alunos, depois do horário escolar, para as suas casas e aí continuarem a ensinar, dando, muitas vezes um pequeno lanche aos seus alunos, lanche que muitas vezes não teriam em sua casa…Tinham orgulho nas notas obtidas pelos seus alunos nos exames, havendo mesmo uma grande, mas saudável, rivalidade com os seus colegas, para ver quem tinha mais resultados positivos e alunos com distinção, nas provas. Estes verdadeiros heróis da instrução popular, porque o foram, ainda hoje merecem o carinho e o reconhecimento dos seus antigos alunos. Eu próprio, quando vejo em Viana do Castelo o meu “velho” professor primário, o Sr. Professor Davide (que por coincidência nasceu no distrito de Bragança), logo me dirijo a ele, para o cumprimentar e lhe agradecer o quanto fez por mim. Estes homens e mulheres, merecem uma justa Homenagem de todos nós, sobretudo dos seus alunos. Foram heróis anónimos que, por lugares sertanejos, isolados, sem condições, deram o seu melhor, por vezes com tanto sacrifício e incompreensão…É verdade que muitas vezes os seus “métodos pedagógicos”, não foram os melhores…( lembro-me da odiada Santa Luzia, a horrível palmatória, que nos atormentava o espírito e nos empolava as mãos…), mas eram outros tempos e outras mentalidades…Esses “métodos pedagógicos” eram condenáveis, bem o sabemos por experiência própria…mas ás vezes um puxão de orelhas e um pequeno mosquete (sem magoar…), dados na altura certa, faziam autênticos milagres…Não havia tanta falta de respeito (ai se os nossos pais soubessem que faltávamos ao respeito ao nosso professor…), mas os professores também se davam ao respeito, davam o exemplo e eram considerados por toda a sociedade como modelos de educação e civismo. Não quero dizer, longe de mim tal ideia, que era tudo um “mar de rosas”, nem pensar, os métodos e conteúdos do ensino (sobretudo na era salazarista) eram, por vezes, condenáveis, como por exemplo, os exagerados castigos corporais e o excesso do recurso à memória. O que eu quero elogiar são os professores que, por essas aldeias fora, ensinavam os meninos e as meninas (essas, infelizmente, menos …porque a mentalidade retrógrada da época era a de que as mulheres deveriam ficar em casa a fazer “o comer” e a fazer as lides domésticas…) a saber ler, escrever e contar (coisa que hoje, a maioria dos alunos, só sabem fazer com o auxílio da máquina calculadora).
Como já referi, estas mulheres e homens, que tanto nos deram e a quem a cultura de várias gerações, tanto deve, têm de ser, muito justamente, homenageados. Aqui fica uma chamada de atenção aos autarcas (e a quem de direito), para se fazer uma Homenagem aos “Velhos” professores primários (Mogadouro já fez e faz essa homenagem, dando o seu nome a ruas da vila). Hoje em dia, há o dia de “isto mais aquilo”, fazem-se homenagens a “torto- e- a-direito” e, por vezes esquecem-se aqueles que mais merecem….E eles merecem-no! 
   António Pimenta de Castro

10 de Setembro             

3 comentários:

  1. Belo e justo texto.Escreva mais sobre esses simbolos das nossas raízes culturais que foram os antigos professores primários.Mal pagos,abandonados em aldeias distantes das vilas e cidades,sem aquecimento,sem luz,entregues a si próprios, lutaram contra tudo para ensinarem crianças filhos de pais analfabetos.
    Leitor

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  2. É verdade, era do nada que fazíamos todo o nosso caminho. A nossa matéria prima eram os filhos dos homens de ontem, de hoje e já nao sei se dos de amanha....quantas lagrimas, quantas faltas, quantas dores!.. Os caminhos foram duros e difíceis de calcorrear. Era a vida! Eram os meios que tínhamos.. Mas sabem que mais? Havia esperança!

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  3. O meu obrigada por esta homenagem. Através destas palavras gostaria de homenagear os meus professores primários, de quem guardo gratas recordações, e muitos colegas professores que trabalharam como eu em "escolas" que de escola só tinham o professor e os alunos, no entanto nunca deixaram de ser uma verdadeira escola

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