sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Salto, por Armando Sena


Passada a fronteira com França, as coisas ficaram facilitadas de forma notória.
Notava-se que a França era um país com grande vontade, talvez necessidade, de receber braços que a ajudassem a levantar-se da devastação da segunda grande guerra.
Agora seguiam tranquilamente por caminhos rurais. Por vezes viajavam em transportes previamente contratados por Luc.
Permitiam-se até a realização de alguns trabalhos pelas quintas onde passavam, o que lhes permitia comer e pernoitar. Isto, naturalmente, prolongava a viagem, mas era a única saída.
Agora, apenas Luc os acompanhava. O outro engajador, o Arribas, regressara a Espanha naquela manhã. Assim era o esquema dos passadores, dali para frente o terreno era menos perigoso, bastava um.
Tinham já o rumo traçado. Ajudariam na apanha das batatas numa quinta perto de Bordéus, ganharia cada um 150 francos, teriam comida e pernoita garantida.
Dizia-se que Bordéus era terra de vinho bom. Para eles esta era um ideia completamente absurda. Como se podia colher vinho num sítio onde chovia tanto? Um martelo grande deviam eles ter. O vinho devia ser todo feito a martelo e com muito saber, como por lá se dizia. 
O vinho era então uma questão de sabedoria, as uvas seriam secundárias. Bom vinho era o de Ledões. Não havia era terra para o cultivar, pois que para colher pão já era demasiado pouca.

 excerto de Na demanda do ideal

6 comentários:

  1. A grande chaga deste país, descrita de uma forma maravilhosa, dando-nos a conhecer o esforço hercúleo que os nossos emigrantes tiveram de fazer para fugir de um país que nunca soube acolher os seus filhos.
    A história repete-se, destino....., ou um povo que não luta no seu país, contra os vendilhões do templo.

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  2. Daniel Vilar escreveu: A grande chaga deste país, descrita de uma forma maravilhosa, dando-nos a conhecer o esforço hercúleo que os nossos emigrantes tiveram de fazer para fugir de um país que nunca soube acolher os seus filhos.
    A história repete-se, destino....., ou um povo que não luta no seu país, contra os vendilhões do templo.

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  3. tb gostei da historia,,e subscrevo o k diz o amigo Daniel...

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  4. Augusta Castro escreveu: acabei de ler o livro NA Demanda do ideal do Armando Sena,,gostei muito ,é uma historia bem real que aconteceu a muita gente deste país ter de ir a salto para outros países em buca dakilo k o nosso nao tinha para oferecer ,senao fome e miseria,,,,para uns foi a salvaçao da pobreza para outros o fim da viagem,,,gostei da historia k alem de ser real esta muito bem construida,,parabens ao amigo Aremando Sena

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  5. Tem, por força, de se gostar do que o Amigo Armando Sena escreve, porque é profundamente sentido, porventura vivido.
    Tenho de ler a sua obra.

    Abraço
    Júlia Ribeiro

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  6. Caros Amigos e, pelo menos alguns, leitores, fico enternecido com as vossa palavras.
    O meu sincero agradecimento,

    Armando Sena

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