quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Contos do Vale da Promissão, de Carlos Carvalheira

Hoje, Moncorvo é quase ali. Próximo do IP2, para ligação à A25, pelo Sul... ao deslado do IC5 que lhe permite sair, para norte, pela A4, Moncorvo é quase ali... Mas nem sempre assim foi. Trás-os-Montes, como de resto outras zonas do país, sempre ficou muito longe. Os diferentes governos centrais, em ditadura como em democracia, deliberada ou negligentemente, votaram meio país ao esquecimento, ao abandono. Não construíram escolas... não edificaram hospitais... não rasgaram estradas... Fizeram de conta que metade de Portugal não se via. E, não sendo visto, não existia. Fizeram-no ontem. Repetem-no hoje. Nada aprenderam com a História! Por isso, pagou o património humano um preço de sangue. Os que partiram, porque levaram a sua força a outras paragens. Os que ficaram, porque sozinhos foram impotentes para as tarefas a desenvolver. Os que hão-de vir porque lhes deixamos uma terra esterilizada à força de tanto ser governada por uma pseudoelite que, de humanidade e de cultura, nunca aprendeu ao menos os rudimentos. Do Douro apenas interessava o Vinho da Generosidade, o Vinho Cheirante, para deleite de baronias, lordes e marquesados em Lisboa, Londres ou Paris. De outras zonas apenas importava a exploração de ferros, de ouros, de cobres que permitiam ao reino rasgar as avenidas da capital, onde as esposas e concubinas de ministros e quejandos passeavam as modas importadas da Europa; ou alindar as praias onde as damas e convidadas ostentavam as ancas celulíticas e roliças e os seios grandes e embiocados. De outras, ainda, apenas interessava a seara com que alimentavam as flatulências dos que se autoincluíam na lista da elite. [...] Trás-os-Montes, como reino maravilhoso, é um mito. E o Vale da Vilariça, como terra da promissão, um hino.


 Com efeito, o que o divino Miguel Torga apelidou amorosamente de Reino Maravilhoso só o é porque o transmontano humílimo, determinado e trabalhador, não aceitou deixar-se suspender na cruz da vida com os cravos da ignorância e do atavismo. Nem que fosse preciso moer pedra para comer pão! E o Vale da Vilariça, a Ribeira, como também lhe chamam, só mereceu do grande Campos Monteiro o epíteto de Terra da Promissão porque o moncorvense, que tem tanto de visionário como de titânico, recusou dar o flanco a febres, a maleitas e a sezões. Nem que fosse preciso trocar a alma e a vida por canseiras! In Nota Prévia Carlos Carvalheira Nasceu em Trancoso. Possui a licenciatura em Direito (Coimbra), a pós-graduação em Direito Europeu (Nancy – França) e o Diploma Superior de Estudos Franceses (Nancy – França). Fez estágios profissionais no Tribunal de Justiça da União Europeia (Luxemburgo), na Comissão da União Europeia (Bruxelas), no Parlamento Europeu (Estrasburgo). No MF e no MNE coordenou, durante vários anos, as posições sectoriais com vista à negociação, no quadro da União Europeia, de vários dossiers (transportes, mercado interno, Europa dos cidadãos, controlo nas fronteiras, reconhecimento de diplomas, protecção civil, serviços de informação, direito de estabelecimento, livre circulação...) e de diversos elementos de Direito Derivado (Regulamentos, Directivas, Decisões...). Integrou o Grupo Ad-Hoc Imigração, assim como as delegações portuguesas às reuniões dos Grupos do Conselho de Ministros. Coordenou todo o processo relativo à notificação do direito nacional adaptado. No Instituto da Juventude, chefiou a Divisão de Relações Internacionais e integrou e chefiou as delegações para negociação de programas com diversos países (Bélgica, Holanda, Alemanha, Dinamarca, França, Guiné Bissau, Cabo Verde...). Participou na Primeira Presidência Portuguesa da União Europeia (1992), onde prestou apoio ao Presidente do Grupo do sector. Exerceu, durante vários anos, as funções de Secretário do Governo Civil da Guarda. Foi conferencista e formador em colóquios, conferências, acções de formação e seminários essencialmente em matéria de Direito Comunitário e da integração de Portugal na União Europeia. Escreveu para jornais de âmbito nacional e local. Tem escrito trabalhos para inclusão na Colecção Fios da Memória. Leccionou, durante vários anos, a cadeira de Direito Europeu e Cidadania, na Universidade Sénior da Guarda.

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