domingo, 29 de junho de 2014

O Douro é património mundial mas quanto é que isso vale para a região?

Comissão Nacional da UNESCO quer estudar importância económica da classificação dos locais como património mundial

Reforçar a aliança entre a ciência e a cultura e apurar quais são os benefícios reais que esta união - a razão de ser da UNESCO - representa para uma região classificada é o principal objectivo de várias entidades ligadas ao Alto Douro Vinhateiro (ADV) que se reuniram nesta quarta-feira na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). A Comissão Nacional da UNESCO, o Comité Português para o Programa Internacional das Geociências e a UTAD realizaram um ciclo de conferências para debater o futuro do Douro Património Mundial.
Perceber e demonstrar a importância e o valor da aliança entre ciência e cultura para um território que conta com duas chancelas UNESCO - o Alto Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Côa - é um dos principais objectivos da Comissão Nacional da UNESCO. “A ciência e a cultura devem funcionar em conjunto para promover de forma sustentada o desenvolvimento do território”, adianta o presidente do Comité Nacional para o Programa Internacional de Geociências, Artur Sá. Nesse sentido, a organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura já está a realizar um estudo sobre o real valor da "marca" UNESCO em termos económicos.
Depois do Reino Unido, Portugal é o 2º Estado Membro dentro dos 195 estados-membros existentes que vai fazer esta investigação. O objectivo é perceber se esta certificação de qualidade é ou não uma mais-valia, até que ponto é monitorizado e avaliado o número de turistas, o impacto que causa no território e que novas oportunidades se criaram com essa chancela.
Para isso, a Comissão Nacional da UNESCO lançou um desafio aos gestores dos quinze sítios nacionais, classificados como Património Mundial da Humanidade, às sete reservas da biosfera e aos três geoparques  para que colaborem nesse estudo. “Não há estudos efectivos que apurem se faz diferença ou não um território ter a chancela da UNESCO. Queremos ter esse estudo para depois, comparativamente, perceber o que é que podemos melhorar e como é que podemos colaborar para tentar rentabilizar" essa classficação, adianta Elizabeth Silva, representante do sector das ciências da Comissão Nacional da UNESCO.
“Estas duas chancelas têm contribuído para uma maior notoriedade do Douro”, não tem dúvidas o vice-reitor para o Planeamento e Estratégia e Organização da UTAD, Artur Cristóvão.
Mas, apesar da classificação e das enormes mais-valias da região, também há fragilidades. Artur Cristóvão, recordou que “o Douro tem activos fundamentais para o seu desenvolvimento mas também tem debilidades que têm de ser vencidas com mais articulação”.
João Rebelo, professor da UTAD e um dos oradores do seminário, adiantou que o Douro está “em condições de manter a sua classificação apesar de haver algumas actividades que afectam negativamente os seus valores”. Entre estas ameaças, foram referidas as vinhas em patamares largos, alguns novos hotéis e problemas pontuais resultantes do próprio desenvolvimento económico. A barragem de Foz Tua, como as linhas de alta tensão, foram consideradas por João Rebelo “problemas pontuais que não vão pôr em causa a classificação do Alto Douro Vinhateiro”. Este investigador está a participar no estudo sobre o estado de conservação do ADV, que está em fase de conclusão, para ser apresentado à UNESCO no início do próximo ano.
Uma das principais conclusões do debate sublinhou que só com uma aliança entre a ciência, a educação e a cultura se conseguem criar sinergias e parcerias vitais para a salvaguarda, desenvolvimento e sustentabilidade do Alto Douro Vinhateiro, estando já a ser realizados projectos nesse sentido.
Célia Ramos, da CCDRN, garante que “é importante uma aproximação à comunidade científica e cultural pois o Douro transpira valor económico e social”, acrescentando que, no entanto, “ainda há muito a fazer” no campo da inovação social.
Incrementar o conhecimento científico como motor de desenvolvimento regional é, assim, essencial. Nesse sentido, a Fundação Côa Parque, através do projecto “Côa na escola”, quer que as escolas da região façam visitas ao património do Vale do Côa para lhes mostrar as facetas geológicas, os valores culturais e o património arqueológico característico da região, como a arte rupestre. “É muito importante avançar com este tipo de projectos porque estamos a preparar as gerações futuras para serem os guardiões destes patrimónios mundiais”, explica António Batarda Fernandes, da Fundação Côa Parque.

Elizabeth Silva concorda e reforça que é importante que as pessoas reconheçam não só os locais classificados como património mundial, mas que tenham um sentido de pertença a esses bens: “É necessário que as comunidades escolares estejam envolvidas e sensibilizadas para o património.”

Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/utad-e-unesco-querem-que-ciencia-e-cultura-andem-de-maosdadas-1660494

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